Hoje, vou incidir o artigo sobre a industrialização da Agricultura, numa região onde se tem vindo a verificar em diversas culturas ao longo dos últimos anos, em todo o concelho de Moimenta da Beira.
A industrialização da Agricultura é caracterizada pela mecanização do trabalho agrícola e a dependência de fatores de produção externos, alheios à exploração agrícola, tal como combustíveis fósseis, fertilizantes e pesticidas. A história da industrialização agrícola é justificada com base numa ciência reducionista.
As tecnologias tradicionais são substituídas por tecnologias industriais, produzidas fora da comunidade rural. A introdução de tecnologias e conhecimentos externos, não adaptados às condições ecológicas e sociais locais, desencadeou a erosão da cultura camponesa, com consequente homogeneização sociocultural, provocando degradação ambiental ao nível das explorações agrícolas.
A industrialização da agricultura foi fortemente impulsionada após a segunda guerra mundial, no que veio a ser conhecido como “Revolução verde”, através da introdução de políticas que visionavam o aumento da produção agrícola, com o objetivo de alcançar a segurança alimentar, em regiões onde persistia o racionamento de alimentos e a fome. Na altura da guerra-fria a autossuficiência agroalimentar era considerada fundamental na Europa, para garantir a estabilidade e independência de cada país.
A industrialização da agricultura aumentou a produtividade agrícola significativamente, levando à produção de excedentes, apesar do crescimento populacional verificado. No entanto, este sucesso trouxe consigo consequências sociais e ambientais nefastas.
Pesticidas
Além da indústria de armamento apenas a indústria agroquímica de produção de pesticidas teve como objetivo produzir materiais ou substâncias mortíferas. Pesticida é o nome genérico dado às substâncias que visam matar organismos indesejados, podendo ser agrupados em herbicidas, fungicidas, inseticidas, etc, de acordo com o grupo de organismos alvo (ervas/plantas, fungos e insetos, nestes casos).
A maioria dos pesticidas contém substâncias ativas que interferem com vias metabólicas fundamentais ou processos fisiológicos vitais. Um fungicida, por exemplo, não mata apenas o fungo que ataca as folhas de uma planta, mas também as micorrizas, que são constituídas por fungos altamente benéficos e importantes para o desenvolvimento normal da maioria das plantas.
Os pesticidas estão também associados a ressurgências de pragas e ao desenvolvimento de resistências nas pragas. Como a maioria dos pesticidas não são muito seletivos, frequentemente a aplicação de um pesticida não elimina apenas a praga, mas também os seus inimigos naturais (predadores, parasitas). As pragas podem reproduzir-se mais rapidamente e são mais abundantes que os seus inimigos naturais e assim, as pragas podem reaparecer com maior pujança após a aplicação de pesticidas, obrigando a um uso cada vez mais frequente de pesticidas e em doses mais elevadas. No entanto, existem diversos mecanismos através dos quais as pragas podem desenvolver resistências aos pesticidas! Por isso é necessário desenvolver-se constantemente novos pesticidas.
Fertilizantes
A redução da disponibilidade de nutrientes nas terras agrícolas, devidas quer à exportação de nutrientes contidos nos produtos agrícolas, quer à eliminação de resíduos orgânicos das terras aráveis após a colheita, quer devido à erosão do solo, foi remediada com a aplicação de fertilizantes sintéticos. Os adubos de origem animal foram substituídos gradualmente, à medida que as explorações se foram especializando, ou em produção vegetal ou em pecuária. O que levou ao advento do problema de falta de nutrientes numas e excesso de nutrientes em outras explorações.
Os adubos químicos são constituídos sobretudo pelos 3 macronutrientes Azoto (N), Fósforo (P) e Potássio (K). A adubação com produtos sintéticos é geralmente excessiva em relação à capacidade de absorção das plantas. A porção dos fertilizantes que não é absorvida pode alterar a comunidade biótica do solo e ser lixiviada para os cursos de água superficiais ou freáticos. O fosfato é relativamente imóvel no solo, mas o Azoto é lavado facilmente pela água da chuva, podendo provocar eutrofização. A eutrofização consiste num crescimento excessivo de algas e outros micro-organismos aquáticos, devido ao excesso de nutrientes. Este crescimento excessivo de certas espécies altera a composição ecológica do sistema aquático e pode consumir o Oxigénio dissolvido na água rapidamente, provocando a morte da maioria dos seres vivos aquáticos.
Os fertilizantes facilmente solúveis alteram também o equilíbrio osmótico entre a raiz das plantas e a solução do solo e alteram a proporção relativa de nutrientes disponíveis para o crescimento vegetal, podendo provocar o crescimento desequilibrado da planta (como por exemplo crescimento rápido em altura, produzindo colmos demasiado frágeis para suportar o peso da espiga).
Os fertilizantes em excesso no solo podem também ser acumulados nas plantas acabando por contaminar os alimentos, constituindo, desta forma, a causa de variados problemas de saúde. A relação entre o excesso de nitratos (resultantes da fertilização azotada) e alguns tipos de cancro já foi claramente estabelecida.
Consumo de combustíveis fósseis
A mecanização do trabalho agrícola resultou num aumento do consumo de combustíveis fósseis nas explorações agrícolas, aumentando a contribuição das mesmas para a alteração da composição da atmosfera, através da emissão de CO2.
Para mais, o uso crescente de combustíveis fósseis na produção agrícola, reduziu imenso a eficácia energética das mesmas. Isto é, os gastos energéticos na produção de alimentos estão cada vez mais próximos de ultrapassarem o conteúdo energético contido nos próprios alimentos produzidos.
Declínio da fertilidade do solo
A mecanização agrícola é também responsável pela aceleração da degradação do solo. Especialmente a mobilização intensiva do solo provoca erosão, ainda mais grave quando associada a precipitação forte e a falta de vegetação que cubra o solo.
A erosão do solo reduz o conteúdo em matéria orgânica do solo, reduz a disponibilidade de nutrientes para as plantas, reduz a capacidade de retenção de água do solo e altera a comunidade biótica do solo, levando, em última análise, a um declínio da fertilidade do solo, que pode chegar até ao ponto da desertificação.
O problema da redução da fertilidade do solo, associada frequentemente à agricultura convencional, é particularmente grave, dado que a formação do solo tem que ser contada em tempo geológico, levando centenas, se não milhares de anos para ser reposta. No entanto, a fertilidade do solo pode ser destruída em poucos anos de gestão inadequada do solo.
Nos últimos 50 anos a gestão adequada do solo não era rentável, pois a redução da fertilidade do solo, devido à erosão, pôde ser superada em grande parte pela aplicação de fertilizantes sintéticos baratos (frequentemente subsidiados, no caso da atual União Europeia).
Biodiversidade
A agricultura industrializada é considerada uma das maiores ameaças à conservação da biodiversidade. A informação mais detalhada que existe trata do declínio da diversidade e abundância de aves ao longo da industrialização agrícola. A agricultura industrializada reduz a diversidade da paisagem, pois para que a aquisição de máquinas seja rentável e o cultivo mais “eficiente” em termos económicos, aumentou-se progressivamente as áreas homogéneas, em que apenas um cultivar é produzido (monoculturas extensas). A maioria dos animais precisam de habitats diversos para satisfazer as suas diferentes necessidades vitais (esconderijos, áreas para alimentação, etc). Um paul sossegado e limpo não assegura a sobrevivência dos patos, se não existem áreas de pastagem por perto. A agricultura industrializada reduz a diversidade de habitats, leva à degradação da sua qualidade e à sua fragmentação.
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Eng.º José Rui Gomes – IT Manager – Universidade do Minho, Jornal Terras do Demo, 13 de junho de 2018