Doenças da planta do Mirtilo

A produção de pequenos frutos, em particular mirtilos (Vaccinium spp.), tem despertado grande interesse na região de Entre Douro e Minho nos últimos anos.

Tratando-se de uma cultura recente entre nós, importa fazer o acompanhamento fitossanitário dos pomares para que possamos assinalar as principais doenças e pragas presentes nas nossas condições edafo-climáticas, bem como a sua incidência e severidade.

O correcto diagnóstico das doenças, bem como a identificação das pragas é fundamental, para que os meios de luta adoptados sejam também os recomendados.

A integração de meios de luta, privilegiando as práticas culturais, é um aspecto fundamental, considerando o número reduzido de substâncias activas disponíveis para tratamento da cultura (consultar o site da DGAV – Extensões de Autorização de Produtos Fitofarmacêuticos concedidas para as Utilizações Menores).

Adquirir plantas sãs em viveiros autorizados pelos Serviços Oficiais é o primeiro passo para o sucesso de um pomar. A preparação do terreno, efectuando previamente análises de solo, que darão as indicações para as correcções a fazer, é outro aspecto a não descurar.

Apresentamos as doenças identificadas em amostras entregues na Divisão de Apoio ao Sector Agroalimentar (DASA), da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, entre 2013 e Setembro de 2015. As plantas analisadas eram provenientes de pomares jovens, abrangendo diversas cultivares (Bluecrop, Brighthwell, Briggita, Chanticleer, Darrow, Draper, Duke, Legacy, Liberty, O’Neil, Ozarkblue, Spartan e Suziblue).

Podridão Radicular (Phytophthora spp.).

A doença está presente nas principais zonas de produção a nível mundial, tendo sido identificadas várias espécies do fungo Phytophthora (P. cinnamomi, P. citrophthora, P. nicotinae, P. palmivora).

Solos com má drenagem são favoráveis ao desenvolvimento do fungo, cujos esporos providos de flagelos (zoósporos), são transportados pela água. A dispersão da doença no terreno, a partir de um foco inicial, coincide com o caminho percorrido pela água no solo.

O fungo poderá manter-se durante vários anos no solo, mesmo na ausência de hospedeiro.

Plantas jovens morrem num curto espaço de tempo, enquanto as plantas adultas poderão apresentar sintomas de declínio ao longo de vários anos, acabando também por morrer.

Sintomas e meios de luta da Podridão Radicular (Phytophthora spp.)

Sintomas:

As plantas infectadas apresentam fraco vigor vegetativo, folhas cloróticas (amareladas) ou precocemente avermelhadas, por vezes com necrose marginal, e desfoliação prematura.

As raízes apresentam-se necrosadas (cor castanha escura). A infecção progride até à zona do cólo da planta, onde é visível uma necrose (cor castanha e consistência firme) sob a casca.

Meios de luta:

As medidas a tomar deverão ser essencialmente preventivas: plantar em solos com boa drenagem e utilizar plantas sãs.

Nos Estados Unidos têm sido realizados diversos estudos sobre os factores com preponderância no desenvolvimento da doença. No que diz respeito às cultivares, no estado de Oregon, Bryla e Linderman (2008) concluíram que ‘Duke’ e ‘Bluecrop’ apresentavam uma incidência mais elevada da infecção. Silva, et al. (1999), delinearam um ensaio para avaliar a influência do encharcamento do solo na severidade da infecção, tendo concluído que quanto maior a frequência a que um solo está sujeito a períodos de encharcamento, maior será a severidade da infecção. Quanto ao tipo de rega, em pomares com histórico da doença e/ou solos com má drenagem, a micro-aspersão é preferível à rega gota-a-gota (Bryla e Linderman, 2007). A incorporação de sulfato de cálcio ao solo reduz a severidade da doença (Yeo, et al., 2013).

No Chile, Larach, et al. (2009), referem a cv. ‘Toro’ como resistente a P. cinnamomi e ‘Elliot’ e ‘Toro’ como resistentes a P. citrophthora.

Autora: Eng.ª Gisela Chicau, DRAPN

Arranjo gráfico: Carlos Coutinho (Assistente-técnico)